Filatelia fecal
Desconhecida de grande parte da população, a filatelia fecal é o estudo e o colecionismo dos selos das cuecas e materiais relacionados.
Os selos das cuecas são pequenas marcas na roupa interior, originadas pelo contacto de fezes ou seus gases com os tecidos.
Cada selo da cueca tem uma história e característica única, não havendo um igual ao outro no mundo, o que torna esta forma de colecionismo virtualmente interminável.
Segundo os filatelistas fecais, o que os move para ter este hobby é a vontade de conhecer mais sobre as pessoas que os produziram e o contexto temporal, económico e social em que o fizeram.
Hernâni Poio é o presidente da Fundação Filatelia Fecal, que promove esta forma de colecionismo em Portugal.
Falamos com ele, para perceber melhor este fenómeno.
NP – Olá Hernâni, como começou a sua paixão pelos selos das cuecas?
HP – O meu pai era um filatelista “clássico” e sempre me incentivou a dar continuidade à sua paixão. Nunca liguei muito aos selos, porque me pareciam muito impessoais, mas um dia fiz um selo na cueca e tudo mudou para mim. Apercebi-me ao olhar com atenção para o que tinha acabado de fazer, que tinha ali algo que dizia muito sobre mim, naquela altura da vida.
NP – Guardou essa cueca?
HP – Infelizmente não. Na altura pareceu-me um fascínio que as pessoas teriam dificuldade em perceber, e só depois de atingida a idade adulta senti segurança para assumir publicamente esta minha paixão.
NP – Coleciona só artigos produzidos por si?
HP – Não! Nem pensar nisso! A riqueza da filatelia fecal está precisamente no conhecimento dos outros através dos selos das cuecas, pelo que, quanto mais diversificadas forem as origens dos especimens mais rica é a coleção.
NP – Como são preservados os selos?
HP – Depois de recolhidos são postos a secar – no caso de ainda os obtermos frescos – e posteriormente é passada uma laca própria, que preserva na perfeição o selo, que encaixilhamos numas pequenas lamelas, para melhor acondicionamento e indexação.
NP – Quantos selos tem neste momento?
HP – Mais de 5000 dos mais variados cantos do globo. É o souvenir que nunca pode faltar nas minhas viagens. Aliás, vou-lhe pedir também que me deixe um antes de ir embora.
NP – Deixarei com todo o gosto. Tem algum que destaque de forma especial na sua vasta coleção?
HP – Sim, de uma senhora alemã cujo nome não posso divulgar. É uma cueca de gola alta, de grandes dimensões, com um rasto aloirado e bem definido, que encontrei num caixote do lixo junto ao parlamento alemão.
NP – Recolhe selos no lixo, portanto?
HP – Sim, há muita gente que ainda receia doar – ou mesmo vender – os seus selos das cuecas, por se sentirem afetadas na sua intimidade.
NP – Existe algum sítio em particular onde recolha com mais frequência?
HP – Sim, sem dúvida. Junto aos parlamentos é onde encontro o maior número de selos com valor. É um sítio onde se faz muita feze e onde mesmo os que não a fazem é porque são uns cagões. Além disso os parlamentares tendem a ocultar todos os indícios da enormidade de fezes que produzem diariamente, deitando-os fora.
NP – Tem algum desejo particular para o futuro da filatelia fecal?
HP – Sim. Gostava muito de viver o dia em que se pudesse utilizar o selo da cueca no correio normal. São tantas as vantagens! Personalização, diversidade, economia, e nem é preciso lamber o selo para ele ficar colado – eu só faço isso pela minha paixão avassaladora pelos selos -, é uma maravilha!
NP – Obrigado pela entrevista e boa sorte para o futuro da filatelia fecal Hernâni.
HP – Obrigado sou eu. Tive muito gosto em conhecer-vos e aproveito para agradecer também ao vosso editor, que me enviou uns selos magníficos, que fez depois de uma atribulada viagem de barco. Um espanto!
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